Estudo publicado na revista Hypertension usou método inovador e mostrou que medicamento intravenoso losartan, usual no controle da pressão arterial, também é eficaz na redução da PIC
O artigo “Intracranial Pressure During the Development of Renovascular Hypertension”, publicado no periódico Hypertension, indicou de forma inédita que o aumento na pressão intracraniana (PIC) e a redução da complacência intracraniana estão relacionados à elevação da pressão arterial média e dependem da ativação do receptor de angiotensina II do tipo 1 (AT1R).
Também verificou-se que o uso agudo do medicamento intravenoso losartan é eficaz na redução da pressão intracraniana. Os resultados da pesquisa foram recentemente divulgados em reportagem da Agência Fapesp (leia aqui).
Dentre as principais conclusões do estudo está a observação de que “o desenvolvimento da hipertensão arterial é acompanhado de alterações na morfologia da pressão intracraniana, a qual pode ser prevenida pelo diagnóstico e tratamento com fármacos que bloqueiam a ação da angiotensina”, conforme aponta Eduardo Colombari, professor titular do Departamento de Fisiologia e Patologia da
Faculdade de Odontologia de Araraquara da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), que liderou a equipe que conduziu o estudo.
Quando não controlado, o aumento da pressão intracraniana pode ter graves consequências, como acidentes vasculares cerebrais (AVC), que podem ser fatais. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a cada seis segundos uma pessoa morre no mundo em decorrência de AVC. No Brasil, ele é a segunda principal causa de mortes, perdendo apenas para o infarto agudo do miocárdio, e representa 8,2% das internações e 19% dos custos hospitalares da Previdência Social.
Outras formas de hipertensão são também fatais. O artigo “The global epidemiology of hypertension”, publicado pela revista Nature em fevereiro de 2020 (leia aqui), indicou que essa é a maior causa de doenças cardiovasculares e morte prematura, atingindo uma população estimada de 31,1% dos adultos (1,39 bilhão) em todo o mundo em 2010.
“Este é o primeiro trabalho correlacionando agentes anti-hipertensivos com complacência intracraniana, abrindo um novo campo de estudo e uma nova possibilidade para futura aplicação clínica”, afirma Gustavo Frigieri.
Além de ser um dos autores do trabalho publicado na Hypertension. Frigeri é diretor científico da brain4care, startup que desenvolveu o sensor não invasivo, de tipo vestível.
Sensor não invasivo: resultados precisos com menor risco para os pacientes
Ao utilizar o sensor e comparar suas medições com as dos tradicionais métodos invasivos de monitoramento de variações na curva da PIC, o estudo também comprovou que o monitoramento de pressão e complacência intracraniana a partir de um sensor não invasivo produz resultados de similar precisão, com menos riscos ao paciente.
A validação de métodos não invasivos de mensuração da pressão intracraniana a partir de sensores vestíveis traz um novo horizonte para a monitorização em diversas situações nunca vistas anteriormente.
Os métodos invasivos têm diversas restrições, já que envolvem a perfuração do crânio e a inserção de transdutores de pressão por meio de cateteres nos espaços ventricular, parenquimal ou subdural, o que pode resultar em complicações como infecção e hemorragia. Além disso, restringem a realização do monitoramento a situações de internação em instituições hospitalares.
O monitoramento a partir de métodos não invasivos torna mais viável o monitoramento de médio e longo prazo, com significativa redução em riscos à saúde decorrentes das técnicas de monitoramento, além de permitir a prevenção da hipertensão intracraniana e complicações decorrentes dela, como AVC.
Metodologia para a realização do experimento
O experimento foi realizado a partir da indução de hipertensão renovascular do tipo 2K1C em ratos machos de seis semanas de idade e monitoramento da pressão intracraniana ao longo de seis semanas utilizando tanto o método invasivo tradicional como o monitoramento com o sensor não invasivo, em diferentes grupos.
Foram identificadas alterações na morfologia do pulso da pressão intracraniana a partir da terceira semana após a indução da hipertensão renal, com aumento na relação P2/P1, sugestivo de comprometimento da complacência intracraniana.
Na sexta semana do estudo, foram administrados a diferentes grupos os fármacos losartan e hidralazina para a redução da pressão arterial dos modelos experimentais animais. O uso de losartan reduziu a pressão arterial a níveis normais e igualmente reduziu a pressão intracraniana, enquanto a hidralazina foi eficaz apenas na redução da pressão arterial, sem alterar a pressão intracraniana e, além disso, agravou a relação P2/P1, novamente indicando comprometimento da complacência intracraniana.
Esse resultado pode indicar que a redução da pressão intracraniana não se deve somente à redução da pressão arterial, mas também pelo bloqueio da AT1R realizado pelo losartan.
O artigo está publicado na edição de abril de 2021 da revista Hypertension, periódico de alta referência nos estudos sobre hipertensão, e pode ser acessado a partir do DOI:10.1161/HYPERTENSIONAHA.120.16217.