Utilizando um método não invasivo, a pesquisa comparou resultados de avaliação da complacência cerebral em doentes renais crônicos antes e após o tratamento de hemodiálise

Uma pesquisa realizada por uma equipe da Universidade Estadual de Ponta Grossa indicou que o monitoramento da complacência intracraniana pode ser útil para o diagnóstico precoce da síndrome de desequilíbrio da diálise. A complicação geralmente é identificada apenas em seu estágio avançado e pode resultar na morte de pacientes em poucos dias. O trabalho é resultado da pesquisa de doutorado de Cristiane Rickli Barbosa na instituição, sob orientação de José Carlos Rebuglio Vellosa, intitulada “Acompanhamento de doentes renais crônicos em hemodiálise através da monitoração não invasiva da pressão intracraniana”.

“A síndrome de desequilíbrio da diálise é uma síndrome rara sobre a qual ainda não temos muita informação”, afirma Cristiane Rickli. Sabe-se, porém, que a hipertensão intracraniana e o edema cerebral, o acúmulo excessivo de líquidos nos espaços intra e extracelular do cérebro, são os principais fatores que contribuem para o desenvolvimento da síndrome. Uma das complicações que podem precedê-la é a hipotensão intradialítica, que apresenta como sintomas cefaléia, náusea, vômito e cãibras.

 A pesquisa monitorou a complacência intracraniana antes e após a realização de sessões de hemodiálise em 42 pacientes.

“O que se acredita é que essas formas leves de intercorrência possam ser indícios de uma forma inicial, mais branda, da síndrome do desequilíbrio da diálise, na qual o paciente não chega a ser diagnosticado porque a confirmação requer o uso de métodos invasivos de verificação da pressão intracraniana, o que só é realizado em último caso. O uso de um método não invasivo para monitorar a pressão intracraniana em todas e quaisquer intercorrências poderia auxiliar no diagnóstico precoce desta síndrome e assim evitar complicações e óbito”, avalia a pesquisadora.

A pesquisa acompanhou 42 pacientes com doença renal crônica em fase terminal que realizavam tratamento dialítico no Centro de Terapia Renal Substitutiva do Hospital Santa Casa de Misericórdia de Ponta Grossa (PR) ao longo de seis meses. A complacência intracraniana dos pacientes foi avaliada antes e após cada uma das três sessões semanais de hemodiálise por meio de um sensor não invasivo que a monitora a partir da morfologia do pulso da PIC.

A complacência intracraniana é um sinal vital que indica a capacidade do crânio em acomodar mudanças de volume dos componentes em seu interior – cérebro, sangue e líquor. O comprometimento da complacência pode levar a um aumento da pressão intracraniana (PIC), o que por sua vez pode acarretar em complicações neurocognitivas, acidentes vasculares cerebrais – que oferecem grandes riscos à vida dos pacientes, muitas vezes agravando situações clínicas já bastante delicadas – e a própria síndrome de desequilíbrio da diálise.

Os resultados demonstraram que havia uma melhora nos dois parâmetros utilizados para a avaliação da complacência – o tempo de pico e a razão entre o primeiro e o segundo dos três picos do pulso da PIC (razão P2/P1) – após a sessão de hemodiálise. Desse modo, indicaram que a terapia de hemodiálise também é benéfica para a redução da pressão intracraniana.

 O trabalho é resultado da pesquisa de doutoramento de Cristiane Rickli Barbosa junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da UEPG.

A pesquisadora ressalta, porém, que são necessários mais estudos para identificar com precisão as causas da interferência da doença renal crônica sobre a complacência cerebral e a pressão intracraniana. “Uma hipótese é que no intervalo entre as sessões de diálise há um acúmulo de líquido nas cavidades corporais, entre elas a cavidade craniana, o que impacta na pressão intracraniana”, sugere. “A hemodiálise justamente removeria essa quantidade excedente de líquido, o que impactaria no restabelecimento ou melhora da complacência cerebral”.

O artigo “Use of non-invasive intracranial pressure pulse waveform to monitor patients with End-Stage Renal Disease (ESRD)”, que apresenta os resultados da pesquisa, foi publicado em 22 de julho de 2021 no periódico PLOS One e pode ser acessado por meio do DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0240570