Relato de caso da Universidade Estadual de Ponta Grossa indica também que fatores alheios à pressão arterial podem influir na pressão e complacência intracranianas

Um relato de caso de equipe da Universidade Estadual de Ponta Grossa indicou que as sessões de terapia renal substitutiva, também conhecida como hemodiálise, podem ter efeito benéfico no reestabelecimento da complacência intracraniana em pacientes com doença renal crônica. O trabalho é resultado da pesquisa de doutorado de Cristiane Rickli Barbosa, intitulada “Acompanhamento de doentes renais crônicos em hemodiálise através da monitoração não invasiva da pressão intracraniana” e orientada por José Carlos Rebuglio Vellosa.

A complacência intracraniana é um sinal vital que indica a capacidade do crânio em acomodar mudanças de volume dos componentes em seu interior — cérebro, sangue e líquor. O comprometimento da complacência pode levar a um aumento da pressão intracraniana, o que por sua vez pode acarretar em acidentes vasculares cerebrais, que oferecem grandes riscos à vida dos pacientes, muitas vezes agravando situações clínicas já bastante delicadas.

O estudo relata o caso de um único paciente, dentro de uma população de 42 acompanhada pelo escopo mais amplo da pesquisa. “Esse paciente se destacou com um valor muito alterado no parâmetro P2/P1, utilizado para a avaliação na complacência cerebral. No momento da diálise o valor da relação P2/P1 de 1.755, sendo que o normal seria inferior a 1. Assim, justificou o seu estudo de forma individualizada”, avalia Rickli.

O paciente é um homem de 87 anos em fase terminal de doença renal crônica, que realiza tratamento com hemodiálise há 8 anos e portador de hipertensão arterial. O estudo realizou o monitoramento de sua complacência intracraniana por meio de sensor não invasivo 98 vezes antes e 158 vezes após as sessões de diálise, assim como outros sinais vitais — pressão arterial sistêmica, frequência cardíaca, temperatura e peso.

Embora as mensurações pré-diálise tenham assinalado uma complacência intracraniana bastante comprometida, a pesquisa identificou que após as sessões de hemodiálise a complacência era reestabelecida, chegando a uma relação P2/P1 de 0.815.

O estudo sugere ainda que a alteração na complacência intracraniana do paciente pode estar ligada a eventos clínicos não relacionados à pressão arterial, como a sobrecarga de fluidos no corpo. As medições de pressão arterial sistêmica indicaram que houve um aumento após as sessões de diálise, ao contrário do esperado. “Independentemente de a pressão arterial do paciente ter se elevado, a hemodiálise foi capaz de auxiliar no restabelecimento da pressão intracraniana, à qual ela é usualmente associada”, pondera Rickli.

O artigo “Efeito da hemodiálise na complacência cerebral avaliada de forma não invasiva: relato de caso” foi publicado em janeiro de 2021 no periódico Brazilian Journal of Development e pode ser acessado a partir do DOI: 10.34117/bjdv7n1-689.