Quadro que causa a degeneração cerebral pode ter relação com a transmissão em cadeia entre neurônios, sendo um avanço para o estudo de infecções virais de longo prazo
Estudo japonês publicado neste ano no periódico Science Advances revela a descoberta do mecanismo pelo qual o vírus do sarampo pode causar panencefalite esclerosante subaguda (PES), sequela progressiva da doença, que promove a deterioração do cérebro, movimentos mioclônicos involuntários e convulsões, de forma gradativa. Cientistas descobriram que o fator determinante para o vírus infectar as células é a proteína de fusão, também conhecida como proteína F; essa descoberta representa um avanço significativo na compreensão dos processos neurológicos do vírus e nas relações genótipo-fenótipo dos vírus transmitidos em bloco.
Embora o sarampo (MeV) seja geralmente não neurotrópico, ele pode persistir no cérebro e causar a PES até mesmo anos após a infecção aguda. Os MeVs persistentes têm proteínas de fusão mutantes hiperfusogênicas que permitem a união entre células nas sinapses e, consequentemente, a transmissão em cadeia entre os neurônios. Esse tipo de infecção viral persistente serve como modelo para a compreensão das infecções virais de longo prazo.
O estudo japonês mostra que a fusogenicidade da proteína F geralmente é aumentada por mutações cumulativas durante a persistência do vírus. No entanto, mutações que, paradoxalmente, reduzem a fusogenicidade podem ser selecionadas juntamente com o genoma MeV de tipo selvagem (não neurotrópico). Essa descoberta indica que ele é capaz de se adaptar ao ambiente cerebral de maneiras complexas e ainda não completamente compreendidas pelo meio científico.
“O estudo fornece informações importantes sobre o processo evolutivo da neuropatogenicidade do MeV e as relações genótipo-fenótipo de proteínas de fusão viral oligoméricas na evolução viral. O conceito de transmissão em bloco pode revelar interações positivas e negativas entre diferentes proteínas de fusão em outros vírus envelopados”, afirmam os autores nas conclusões da pesquisa.
Essas descobertas podem ter implicações significativas para a prevenção e tratamento da PES. A compreensão mais completa do processo de longo prazo da neuropatogenicidade do MeV pode ajudar no desenvolvimento de terapias eficazes para a PES e outras doenças neurológicas associadas ao vírus. Além disso, a compreensão da dinâmica evolutiva do MeV pode ajudar a prever e prevenir surtos de PES em populações vulneráveis.
É importante ressaltar que o estudo representa um avanço significativo na compreensão dos processos neurológicos do sarampo, mas ainda há muito a ser aprendido sobre a complexa dinâmica evolutiva do vírus. Sendo assim, são necessárias pesquisas adicionais para entender completamente como o vírus é capaz de persistir no cérebro e causar PES e outras doenças neurológicas associadas. No entanto, a descoberta representa um passo importante na compreensão desses processos e pode levar a avanços significativos na prevenção e tratamento de doenças neurológicas causadas pelo MeV.
Saiba mais sobre as descobertas do estudo “Collective fusion activity determines neurotropism of an en bloc transmitted enveloped virus”, de autoria de Yuta Shirogane, Hidetaka Harada, Yuichi Hirai, Ryuichi Takemoto, Tateki Suzuki, Takao Hashiguchi e Yusuke Yanagi, publicado em janeiro no periódico Science Advances, acessando o DOI: https://doi.org/10.1126/sciadv.adf3731