A nova estrutura, extremamente fina, atua como uma barreira protetora; ela monitora o cérebro em busca de infecções e inflamações pelas células imunes.
Cientistas das universidades de Copenhague, na Dinamarca, e Rochester, nos Estados Unidos, fizeram uma descoberta importante no campo da neurociência. Eles encontraram uma nova membrana no cérebro que desempenha um papel fundamental na proteção da matéria cerebral cinzenta e branca.
Publicado em janeiro de 2023 na revista Science, o estudo revela que essa membrana, extremamente fina, atua como uma barreira protetora e, também, como uma plataforma para o monitoramento do cérebro em busca de infecções e inflamações pelas células imunes.
Segundo Maiken Nedergaard, codiretor do Centro de Neuromedicina Translacional das duas universidades, a estrutura recém-descoberta regula o fluxo de líquido cefalorraquidiano (LCR) dentro e ao redor do cérebro. Além de transportar e remover resíduos cerebrais, o LCR também desempenha um papel importante no suporte das defesas imunológicas do cérebro.
Chamada de membrana subaracnóidea tipo linfática (SLYM), a nova estrutura divide o espaço abaixo da camada aracnoide do cérebro em duas partes. Ela é muito fina, com apenas uma ou algumas células de espessura, mas funciona como uma barreira rígida, permitindo a passagem apenas de moléculas muito pequenas. Assim, separa o LCR “limpo” do “sujo”. A membrana pertence ao tipo mesotélio, que também reveste órgãos como pulmões e coração.
Essa descoberta é fruto da pergunta feita por Kjeld Møllgård, professor de neuroanatomia da Universidade de Copenhague, sobre a existência de uma membrana semelhante no sistema nervoso central. Seus estudos se concentram na neurobiologia do desenvolvimento e nas barreiras que protegem o cérebro.
População de células
Embora os experimentos mencionados no estudo tenham sido conduzidos em camundongos, os cientistas também encontraram a mesma camada no cérebro humano adulto. Acredita-se que essa membrana desempenhe um papel fundamental no sistema glinfático, que envolve o fluxo controlado e a troca de LCR, permitindo a entrada de líquido fresco e a liberação de proteínas tóxicas associadas ao Alzheimer e outras doenças neurológicas.
A membrana também impede a entrada de células imunes externas, pois abriga sua própria população de células imunes do sistema nervoso central. Essas células usam a SLYM para monitorar a superfície do cérebro, examinando o LCR em busca de sinais de infecção.
Durante processos inflamatórios ou de envelhecimento, os cientistas observaram um aumento na concentração de células imunes na membrana. Quando ela é rompida devido a uma lesão cerebral, o fluxo de LCR é interrompido, o que prejudica o sistema glinfático e permite que células imunes externas entrem no cérebro. Isso pode desencadear ou agravar doenças como Alzheimer, esclerose múltipla e infecções do sistema nervoso central.
A descoberta dessa nova membrana traz implicações importantes para o desenvolvimento de terapias biológicas nas áreas mencionadas. Portanto, a estrutura recém-identificada precisa ser considerada nas futuras gerações de tratamentos que estão sendo desenvolvidos.