Cientistas analisam alternativas de otimização de diagnósticos e intervenções terapêuticas com o auxílio de vesículas extracelulares em estudo produzido no Qata
As vesículas extracelulares são importantes estruturas responsáveis pela comunicação entre células e o transporte de substâncias; além disso, também exercem um importante papel no avanço promissor das possibilidades de otimização de diagnósticos, como já visto aqui no brain::science. No entanto, o entendimento da sua relevância como facilitadora da diagnose clínica é ainda prematuro e, agora, cientistas do Qatar passam a investigar também a relevância desses biomarcadores nos casos de doenças neurodegenerativas e até mesmo o seu uso em tratamentos de lesões cerebrais.
São consideradas doenças de impacto no sistema nervoso central aquelas que interferem diretamente na capacidade cognitiva do paciente, mesmo que momentaneamente, como traumatismo cranioencefálico (TCE), acidente vascular cerebral e doenças crônicas (Alzheimer, Parkinson, entre outras). Para elas, os biomarcadores se mostram um importante mecanismo de agilização dos diagnósticos e possíveis intervenções terapêuticas.
“A neurodegeneração e a neuroinflamação podem desempenhar papéis importantes na patologia do traumatismo cranioencefálico e outras doenças neurológicas. Mecanismos envolvendo vesículas extracelulares no sistema nervoso central podem lançar luz sobre o potencial envolvimento dos exossomos na patogênese e progressão do TCE, que é atualmente desconhecido”, afirmam os autores do estudo.
O uso das vesículas extracelulares na investigação e intervenção do trauma cranioencefálico
Os traumas cranioencefálicos são uma questão latente dos sistemas de saúde, por serem comuns e grandes causadores de mortalidade e incapacidade. Por esse motivo, a busca por mecanismos de auxílio em seu diagnóstico e tratamento, por meio dos biomarcadores, representa um grande benefício para os cofres públicos e privados que gerenciam a saúde.
O artigo detalha, em imagens, a visão das vesículas extracelulares em meio a uma lesão cerebral, por meio de um diagrama que concentra todo o processo inflamatório das células que se comunicam com a ajuda desses biomarcadores.
“A natureza complexa do TCE, combinada com o conhecimento científico inadequado que sustenta a fisiopatologia da doença, representa um desafio para o desenvolvimento de modalidades terapêuticas bem-sucedidas e eficazes. Consequentemente, a consideração de modalidades para diagnóstico e prognóstico precisos no TCE gerou uma série de estudos para identificar potenciais biomarcadores para orientar melhores estratégias terapêuticas clínicas e identificar os indivíduos mais afetados”, refletem os autores.
Além disso, o estudo debate as dificuldades da qualidade dos diagnósticos via imagem para as lesões cranioencefálicos, entendo que essa modalidade de exame não favorece o entendimento das possibilidades de tratamentos e não são efetivas em todos os níveis de gravidade que o quadro pode apresentar. “O TCE leve representa o problema diagnóstico mais complexo e único porque frequentemente contém lesões microscópicas envolvendo danos axonais e vasculares que alteram a homeostase bioquímica, metabólica e celular. Danos no nível microscópico podem contribuir para o desenvolvimento de deficiências neurológicas de longo prazo na forma de complicações pós-concussão”, concluem.
É possível ainda dizer que essas vesículas que atuam na comunicação celular podem ser agentes promissores no transporte de substâncias terapêuticas, ajudando no tratamento de traumas cranioencefálicos. Essa abordagem recebe o nome de tratamento exossomal e é uma aposta recente, mas que estima segurança superior, abordagem menos invasiva, maior estabilidade, transferência simples e indução de respostas imunes mínimas ou inexistentes.
No entanto, mesmo que existam todos esses prós em torno do uso de biomarcadores, sua aplicação no meio clínico ainda é incerta por conta das dificuldades no isolamento desse material genético, que se torna necessária devido ao tamanho pequeno, a densidade dos exossomos e a heterogeneidade dos fluidos onde são coletados.
Além disso, os estudos em torno do potencial dessas estruturas celulares ainda são prematuros e precisam de maior aprofundamento para que suas capacidades sejam verdadeiramente exploradas, alcançando mecanismos de diagnósticos e tratamentos cada vez mais tecnológicos, ágeis e menos invasivos.
O artigo “The evolving role of extracellular vesicles (exosomes) as biomarkers in traumatic brain injury: Clinical perspectives and therapeutic implications”, de autoria de Naushad Ahmad Khan, Mohammad Asim, Ayman El-Menyar, Kabir H. Biswas, Sandro Rizoli e Hassan Al-Thani, foi publicado em 6 de outubro de 2022 no periódico Frontiers. Para conferir toda a reflexão em torno da relação entre as vesículas extracelulares e as doenças neurodegenerativas, confira o artigo completo acessando o DOI: https://doi.org/10.3389/fnagi.2022.933434