Cientistas analisam alternativas de otimização de diagnósticos e intervenções terapêuticas com o auxílio de vesículas extracelulares em estudo produzido no Qata

As vesículas extracelulares são importantes estruturas responsáveis pela comunicação entre células e o transporte de substâncias; além disso, também exercem um importante papel no avanço promissor das possibilidades de otimização de diagnósticos, como já visto aqui no brain::science. No entanto, o entendimento da sua relevância como facilitadora da diagnose clínica é ainda prematuro e, agora, cientistas do Qatar passam a investigar também a relevância desses biomarcadores nos casos de doenças neurodegenerativas e até mesmo o seu uso em tratamentos de lesões cerebrais.

(Foto: Freepik)

São consideradas doenças de impacto no sistema nervoso central aquelas que interferem diretamente na capacidade cognitiva do paciente, mesmo que momentaneamente, como traumatismo cranioencefálico (TCE), acidente vascular cerebral e doenças crônicas (Alzheimer, Parkinson, entre outras). Para elas, os biomarcadores se mostram um importante mecanismo de agilização dos diagnósticos e possíveis intervenções terapêuticas.

“A neurodegeneração e a neuroinflamação podem desempenhar papéis importantes na patologia do traumatismo cranioencefálico e outras doenças neurológicas. Mecanismos envolvendo vesículas extracelulares no sistema nervoso central podem lançar luz sobre o potencial envolvimento dos exossomos na patogênese e progressão do TCE, que é atualmente desconhecido”, afirmam os autores do estudo.

O uso das vesículas extracelulares na investigação e intervenção do trauma cranioencefálico

Os traumas cranioencefálicos são uma questão latente dos sistemas de saúde, por serem comuns e grandes causadores de mortalidade e incapacidade. Por esse motivo, a busca por mecanismos de auxílio em seu diagnóstico e tratamento, por meio dos biomarcadores, representa um grande benefício para os cofres públicos e privados que gerenciam a saúde.

O artigo detalha, em imagens, a visão das vesículas extracelulares em meio a uma lesão cerebral, por meio de um diagrama que concentra todo o processo inflamatório das células que se comunicam com a ajuda desses biomarcadores.

Visão geral das vesículas extracelulares (EVs) na lesão cerebral. 
Foto: Artigo original Frontiers (Outubro – 2022)

“A natureza complexa do TCE, combinada com o conhecimento científico inadequado que sustenta a fisiopatologia da doença, representa um desafio para o desenvolvimento de modalidades terapêuticas bem-sucedidas e eficazes. Consequentemente, a consideração de modalidades para diagnóstico e prognóstico precisos no TCE gerou uma série de estudos para identificar potenciais biomarcadores para orientar melhores estratégias terapêuticas clínicas e identificar os indivíduos mais afetados”, refletem os autores. 

Além disso, o estudo debate as dificuldades da qualidade dos diagnósticos via imagem para as lesões cranioencefálicos, entendo que essa modalidade de exame não favorece o entendimento das possibilidades de tratamentos e não são efetivas em todos os níveis de gravidade que o quadro pode apresentar. “O TCE leve representa o problema diagnóstico mais complexo e único porque frequentemente contém lesões microscópicas envolvendo danos axonais e vasculares que alteram a homeostase bioquímica, metabólica e celular. Danos no nível microscópico podem contribuir para o desenvolvimento de deficiências neurológicas de longo prazo na forma de complicações pós-concussão”, concluem. 

É possível ainda dizer que essas vesículas que atuam na comunicação celular podem ser agentes promissores no transporte de substâncias terapêuticas, ajudando no tratamento de traumas cranioencefálicos. Essa abordagem recebe o nome de tratamento exossomal e é uma aposta recente, mas que estima segurança superior, abordagem menos invasiva, maior estabilidade, transferência simples e indução de respostas imunes mínimas ou inexistentes. 

Demonstração do uso de exossomos como veículo para opções terapêuticas regenerativas.
(Foto: Artigo do artigo publicado em Frontiers (Outubro – 2022))

No entanto, mesmo que existam todos esses prós em torno do uso de biomarcadores, sua aplicação no meio clínico ainda é incerta por conta das dificuldades no isolamento desse material genético, que se torna necessária devido ao tamanho pequeno, a densidade dos exossomos e a heterogeneidade dos fluidos onde são coletados. 

Além disso, os estudos em torno do potencial dessas estruturas celulares ainda são prematuros e precisam de maior aprofundamento para que suas capacidades sejam verdadeiramente exploradas, alcançando mecanismos de diagnósticos e tratamentos cada vez mais tecnológicos, ágeis e menos invasivos. 

O artigo “The evolving role of extracellular vesicles (exosomes) as biomarkers in traumatic brain injury: Clinical perspectives and therapeutic implications”, de autoria de Naushad Ahmad Khan, Mohammad Asim, Ayman El-Menyar, Kabir H. Biswas, Sandro Rizoli e Hassan Al-Thani, foi publicado em 6 de outubro de 2022 no periódico Frontiers. Para conferir toda a reflexão em torno da relação entre as vesículas extracelulares e as doenças neurodegenerativas, confira o artigo completo acessando o DOI: https://doi.org/10.3389/fnagi.2022.933434