Publicado no Neurocritical Care, estudo compara resultados obtidos com o uso do ICP invasivo, considerado parte da medida padrão ouro, e do monitor ICPni não invasivo em pacientes com quadros hemorrágicos causados por acidentes vasculares cerebrais
Embora considerada a melhor medida terapêutica para casos de hemorragia intracerebral ou acidente vascular cerebral isquêmico, o monitoramento da pressão intraventricular invasivo (ICPi) associado à drenagem ventricular externa continua oferecendo dificuldades para o tratamento de pacientes, que são ocasionadas por seu uso invasivo – como: eventos adversos como infecções, e variações na precisão das medidas.
Pensando nisso, pesquisadores do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo estabeleceram um estudo comparativo entre o método usual e a tecnologia pioneira de monitoramento de variações de pressão e complacência intracraniana da brain4care, buscando entender se é possível detectar resultados semelhantes de monitoramento da PIC, de forma não invasiva, por meio de detecção de alterações micrométricas no crânio.
Tomando como base o quadro de 18 pacientes ao longo de um ano (análise realizada no período pré-pandêmico), o estudo independente contou com o empréstimo dos dispositivos, que fornecem informações sobre os parâmetros da onda da pressão intracraniana (PIC) por meio de um sensor que captura as microexpansões do crânio. O objetivo do estudo era entender se o monitoramento das variações da PIC identificadas por meio da morfologia de ondas é realmente capaz de alcançar a precisão já analisada no outro método vigente.
“Temos vários trabalhos com a nova tecnologia de monitoramento, mas, com exceção do meu e o do pesquisador Sérgio Brasil, feito recentemente, nenhum outro tinha tentado responder o básico, que é entender se estamos medindo o que realmente queremos medir. As duas pesquisas mostram que a morfologia da onda é muito próxima da morfologia da PIC invasiva e é são essas pesquisas que sustentam o uso da morfologia de onda como um sinal vital a ser monitorado ou como uma nova informação que nos auxilia a cuidar do paciente”, diz um dos autores do estudo, Fabiano Moulin.
No entanto, o médico e pesquisador destaca que é preciso manter o ceticismo científico ao analisar os resultados, visto que a amostragem dos casos estudados na comparação incluía pacientes com quadros clínicos similares, com hemorragias majoritariamente relacionadas a acidentes vasculares cerebrais. “É importante que estudiosos duvidem, pesquisem em outros lugares e que façam mais. Na verdade, quanto mais pesquisas trouxerem essa pergunta básica, melhor, até para que a gente entenda em qual população a acurácia é maior, ou seja, o que conseguimos fazer melhor”, complementa Moulin.
Estudo e comparação dos métodos de medição de PIC
Para a realização do estudo, os pacientes foram submetidos aos dois métodos de monitoramento da pressão intracraniana, simultaneamente, estando o invasivo localizado em um ventrículo, ligado a um conversor de pressão e sistema de drenagem, enquanto o aparelho não invasivo estava posicionado na cabeça do paciente.
Partindo disso, os resultados foram analisados cegamente, de forma que P1 e P2 foram determinadas automaticamente, com o auxílio de softwares da health tech e confirmadas pela inspeção visual dos pesquisadores.
Para esse levantamento comparativo, foram eliminados os pacientes que apresentavam doenças neurológicas crônicas, como hidrocefalia, doenças desmielinizantes, e outras assim classificadas.
Conclusão e perspectivas futuras do uso da morfologia de onda
A morfologia das ondas do método ICPi, considerado o padrão ouro, mostrou um P2 maior que P1 em 54,3% dos minutos analisados (1356 do total de 2495 min) e a morfologia das ondas do método não invasivo, ou ICPni, mostrou um P2 maior que P1 em 64,5% do tempo (1598 de 2495 min). A concordância entre os métodos faz com que seja possível dizer que o estudo mostrou uma alta correlação na análise da morfologia das ondas entre o método da brain4care quando comparado ao monitoramento ICPi, especialmente em relação à proporção de P2/P1.
Esse cenário abre a possibilidade da aplicação do uso cotidiano da tecnologia de ondas para o monitoramento da pressão intracraniana, com destaque ao seu papel de triagem e acompanhamento dos pacientes, identificando contra-indicações e entendendo quem precisará efetivamente da abordagem com o monitoramento ICPi.
No entanto, assim como ressaltado pelo pesquisador Fabiano Moulin e os demais pesquisadores ao longo do artigo, é preciso seguir adiante com o aprofundamento dos estudos a respeito para esclarecer o papel da morfologia de onda para o monitoramento da pressão intracraniana no dia a dia dos ambientes hospitalares, além de entender sua aplicação em outros contextos clínicos. Ainda assim, a eficácia do método nos estudos já existentes vislumbram grandes possibilidades para a melhora na abordagem do paciente acometido por hemorragias intracranianas. Para conferir resultados do comparativo entre os dois métodos de monitoramento analisados e demais detalhes sobre o estudo “Waveform Morphology as a Surrogate for ICP Monitoring: A Comparison Between an Invasive and a Noninvasive Method”, publicado em 2022 pelo periódico Neurocritical Care, acesse por meio do DOI: 10.1007/s12028-022-01477-4.