Estudo espanhol põe luz no aprofundamento científico sobre a neuroplasticidade, visando reverter lesões e melhorar a qualidade de vida de pacientes
Presente em grandes produções hollywoodianas como “Game of Thrones” e “Como Eu Era Antes de Você”, Emilia Clarke se tornou assunto na mídia por sua excepcional recuperação após passar por dois derrames que comprometeram parte significativa do seu cérebro. Ainda assim, a atriz segue ativa na atuação graças ao fenômeno da neuroplasticidade, que remodela o órgão para que ele siga executando as mesmas atividades, mas, agora, com o auxílio de novas regiões.
“A quantidade de meu cérebro que não é mais útil é notável, mas sou capaz de falar e viver minha vida normalmente. Estou na minoria realmente pequena de pessoas que podem sobreviver a isso”, contou Clarke à BBC One.
Essa capacidade plástica do cérebro desperta o interesse de neurocientistas em todo o mundo, porque embora muito se estude sobre o assunto, ainda não é conclusivo o entendimento de como ele interfere na morfologia e fisiologia cerebral. Pensando nisso, os cientistas espanhóis Pedro Mateos Aparicio e Antonio Rodríguez Moreno, do “Departamento de Fisiologia, Anatomia e Biologia Celular” da Universidade Pablo de Olavide, revisitam aquilo que se sabe sobre a remodelação cerebral e sua essencialidade para a qualidade de vida de pacientes que passaram por lesões severas no órgão no artigo “The Impact of Studying Brain Plasticity”.
“Uma propriedade fundamental dos neurônios é sua capacidade de modificar a força e a eficácia da transmissão sináptica através de um número diverso de mecanismos dependentes de atividade, tipicamente referidos como plasticidade sináptica. Pesquisas do século passado mostraram que a plasticidade neural é uma propriedade fundamental dos sistemas nervosos nas espécies, desde os insetos até os humanos.”, destacam os cientistas.
No entanto, o estudo da neuroplasticidade se torna multifacetado quando especialistas analisam o tempo de resposta de cada estrutura do cérebro para a regeneração, questão que foi levantada em artigo de 2011 e que recebeu o nome de “Plasticidade Dependente de Pico de Tempo” (STDB). Juntamente a essas descobertas, também levantou-se a possibilidade de que o cérebro, na realidade, nunca para de se reestruturar de acordo com as necessidades do indivíduo. “A descoberta do STDP no início deste século, gerou interesse na influência do tempo e a freqüência nos parâmetros necessários para induzir a plasticidade sináptica. Isto se deu em parte porque as formas tradicionais de plasticidade são provocadas com protocolos baseados em frequências de estimulação que, às vezes, estão longe de ser fisiológicas e, portanto, é pouco provável que ocorram in vivo”, complementam Pedro e Antonio.
Perspectivas para a neuroplasticidade e o que já está sendo feito
É possível dizer que o processo de regeneração e readequação do cérebro é um caminho para contornar danos produzidos por eventos como os de Emilia Clarke, pois a capacidade de manipular caminhos e sinapses neuronais específicas tem implicações importantes para a tomada de medidas terapêuticas e clínicas que melhorarão nossa saúde.
Ainda que a ciência busque avanços na literatura sobre o assunto, pessoas seguem vivenciando o fenômeno da neuroplasticidade, em tempos e especificidades individuais de cada organismo e, na maior parte dos casos, não com a rapidez que se deu no caso da atriz.
Pensando nos impactos do processo de neurorreabilitação, Emilia fundou a instituição de caridade “SameYou” para pessoas que sofreram lesões cerebrais. Em 2020, recebeu o reconhecimento da American Brain Foundation, por meio do prêmio “Public Leadership in Neyrology”, por seus esforços na conscientização sobre o assunto.
Para se aprofundar ainda mais na neuroplasticidade, é possível acessar o artigo “The Impact of Studying Brain Plasticity”, publicado na Frontiers in Cellular in Neuroscience por Pedro Mateos Aparicio e Antonio Rodríguez Moreno, na íntegra por meio do DOI: 10.3389/fncel.2019.00066