Estudo revisa a importância de adaptações no processo de aprendizado da aritmética básica e como elas facilitam a relação entre alunos do ensino fundamental e as matérias exatas

Presente no cotidiano de todos os seres humanos, o raciocínio lógico pautado em algarismos é essencial para o bom desenvolvimento interpessoal e vida prática, isso porque os números se fazem necessários nas atividades básicas do dia a dia. Para otimizar o aprendizado, educadores optam pela aplicação de análises psicopedagógicas e correlacionadas à neurociência

A disciplina de matemática ainda é vista com restrições por muitos alunos.
Imagem: Freepick

Em artigo sobre o assunto, intitulado “Uma breve reflexão sobre o uso da psicopedagogia e da neurociência como ferramenta para o ensino da matemática nos primeiros anos escolares”, a psicopedagoga especializada em neurociência pedagógica, Larissa Jacintho, explica as razões pelas quais o aprendizado da matemática é caracterizado como um processo negativo e indesejado para muitos alunos, além de colocar luz sobre a forma como educadores devem se aproveitar de práticas comprovadas cientificamente para ressignificar os estudos relacionados ao entendimento de números e operações matemáticas. 

Entende-se que, diferentemente do que é observado nas ciências humanas, as crianças só passam a ter contato aprofundado com o raciocínio lógico na escola, colocando a absorção desses conteúdos em desvantagem aos demais. 

É possível dizer, por exemplo, que antes mesmo do primeiro dia de aula, a maior parte das crianças já sabe se comunicar, o que faz com que o processo didático da linguagem seja voltado para a ampliação de conhecimento e vocabulário. Já com a matemática, o cenário não costuma ser o mesmo e os alunos passam a ter o contato com operações de soma, subtração, multiplicação e divisão de forma quase primária na sala de aula. 

Para melhorar esse processo, o bom entendimento do cérebro infantil ajuda a administrar as melhores escolhas para o ensino adequado. Jogos, de forma geral, são boas escolhas para a construção do raciocínio lógico, podendo ser opções pedagógicas, de entretenimento, quando adaptados (exemplo: UNO), e até mesmo os clássicos como dominó e xadrez. “A linguagem matemática envolve o raciocínio lógico, e de acordo com Campos (2017), é necessário levar em conta a Maturação (que é pensar se aqueles conteúdos estão adequados para a faixa etária), as experiências passadas e motivação (trocas da criança com o outro e com o meio) que as crianças possuem”, escreve a especialista no artigo.

A psicopedagoga ainda complementa: “Utilizando como exemplo o ensino da aritmética das quatro equações principais, aludiu-se que jogos podem ser ferramentas de aceitação positivas por parte dos alunos e professores”, se referindo ao uso de métodos alternativos para tornar a disciplina palpável aos alunos e promovendo a aproximação. 

Alguns pais e educadores já apostam em novos caminhos de ensino para tornar o processo de aprendizagem das equações mais simples. É o caso de Janaína Silvestre, mãe de uma criança de cinco anos e especialista em Educação Montessoriana, criada pela médica e educadora italiana Maria Montessori e que consiste na liberdade de atividade e de amplos estímulos para o desenvolvimento total dos indivíduos. A metodologia entende que a mente humana é de natureza matemática, e tende de forma inata à busca por exatidão, medida e confronto. 

Janaina Silvestre, Especialista Montessori de 0 a 6 anos e facilitadora de disciplina positiva
Imagem: redes sociais

“Acredito que a criança precisa utilizar na vida prática seu conhecimento e deve passar por observações concretas para atingir abstrações. Ela aprende conceitos como medida, quantidade e volume enquanto separa os brinquedos por cores, junta os pares de meia, classifica objetos do mais pesado para o mais leve, entre outras atividades.”, explica Janaína. 

Ela ainda complementa com sua visão de mãe, que já vê a filha de cinco anos alcançar marcos no aprendizado da matéria por meio de um método de educação que contempla a fundo o desenvolvimento neurológico infantil – “Muita gente tem medo da matemática devido a metodologias equivocadas, traumas e rotulações, mas a verdade é que todas as crianças podem ser muito interessadas nos números, quando apresentadas às atividades corretas e no momento certo”, encerra. 

No entanto, embora necessários para o avanço da qualidade do letramento matemático, cabe o pensamento crítico de que o Método Montessori e tantos outros alternativos ao aprendizado padrão, assim como o acompanhamento de um neurologista infantil para averiguação do desenvolvimento cerebral da criança, são fatores de difícil acesso para grande parte da população. Esse cenário resulta no acumulado déficit de ensino que fez com que os colégios públicos de todo o país tenham constatado, por meio do Sistema de Avaliação do Ensino Básico de 2021, que no último ano 95% dos alunos saíram do ensino médio sem conhecimento adequado sobre a matéria.

Para mais reflexões sobre o papel da neurociência na melhora do ensino da matemática, o estudo “Uma breve reflexão sobre o uso da psicopedagogia e da neurociência como ferramenta para o ensino da matemática nos primeiros anos escolares”, escrito por Larissa Jacintho Moreira Gama foi publicado em 2022 e está disponível por meio do DOI: doi.org/10.32749/nucleodoconhecimento.com.br/educacao/111266