Pesquisa considerou mais de três mil adultos acima de 60 anos e estabeleceu paralelo com a teoria da “orquídea” e do “dente-de-leão” para mensurar impactos das atividades na saúde dos participantes
Qual o caminho certo para trilhar quando se almeja um envelhecimento saudável, mantendo a capacidade cognitiva e, consequentemente, a qualidade de vida? Essa é uma questão constantemente levantada pela comunidade científica, visto que o mundo está cada vez mais velho e, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), já é possível estimar uma população de cerca de dois bilhões de pessoas acima dos 60 anos até 2050.
Essa perspectiva fez com que pesquisadores canadenses buscassem entender os impactos das prescrições sociais (recomendações médicas ligadas aos hábitos de vida) em 3.530 pessoas por meio da estratificação no estudo “Does cognitive aging follow an orchid and dandelion phenomenon?”, publicado em outubro na Frontiers in Aging Neuroscience. O objetivo que norteou a busca pela resposta foi compreender quem se beneficiaria de quais fatores do estilo de vida, ajudando a otimizar as indicações dos profissionais de saúde e entender os caminhos não lineares do envelhecimento.
O conceito de comparação dos indivíduos com flores foi criado por Thomas Boyce, pediatra que destinou sua vida ao estudo de neurologia infantil e que, após anos de pesquisas, classificou como “dentes-de-leão” as crianças mais resilientes ao estresse e como “orquídeas” aquelas que são mais vulneráveis aos estímulos externos. Da mesma forma, os autores do estudo em questão expandiram a teoria ao campo do envelhecimento, considerando a sensibilidade biológica dos indivíduos estudados aos efeitos ambientais nocivos e protetores.
“Concentramos-nos em três principais hipóteses: o enriquecimento dos fatores do estilo de vida, tais como exercício, atividades sociais e educação melhoram as notas cognitivas; o esgotamento desses fatores, como o fumo, sedentarismo e a baixa estabilidade financeira levariam a níveis cognitivos mais baixos; e, por último, compreender se os hábitos do estilo de vida têm impactos diferentes a longo prazo, dependendo dos níveis atuais de saúde cognitiva dos participantes”, detalham os pesquisadores no artigo.
Metodologias e principais conclusões
Para chegar à resposta que buscavam, os cientistas contaram com o auxílio de mecanismos de inteligência de dados com uma abordagem longitudinal que comparava ondas com informações da saúde cognitiva de 2012 e 2016. Além disso, os participantes foram divididos em cinco grupos cognitivos por meio de um teste clínico de Word Recall.
No intervalo de quatro anos, foram observados 36 fatores que impactam positivamente e negativamente na preservação cognitiva e que podem ser observados abaixo.
Alguns deles representaram maior impacto estatisticamente: leitura, fazer palavras cruzadas e passar algum tempo no computador são fatores que tiveram impactos positivos no atraso da neurodegeneração. Já o fumo e os problemas contínuos de moradia são alguns dos exemplos que prejudicaram significativamente a preservação neurológica dos pacientes.
Por fim, os impactos dos hábitos relacionados ao estilo de vida são reduzidos nos grupos centrais das categorias cognitivas, enquanto se intensificam nos polos de análise, onde os participantes parecem se tornar mais sensíveis e vulneráveis aos efeitos dos fatores estudados. “Nossos métodos de estratificação nos permitiram observar um novo resultado: os adultos acima de 60 anos que tinham notas cognitivas relativamente medianas não foram afetados pelos fatores estudados, enquanto os idosos com posições cognitivas muito altas ou muito baixas foram altamente impactados por fatores relacionados ao estilo de vida”, destacam.
Com esses resultados, é possível constatar que os indivíduos “dente-de-leão” são menos sensíveis ao ambiente, mas não prosperam tanto quanto aqueles classificados como “orquídeas” em situações ideais. Fazendo com que seja possível extrapolar um conceito inicialmente pensado para o meio pediátrico, trazendo esse olhar também para a vida após os 60 anos, para entender como e porque envelhecemos de formas tão individuais e específicas para cada indivíduo.
Para se aprofundar nesta reflexão, confira o artigo “Does cognitive aging follow an orchid and dandelion phenomenon?”, na íntegra, publicado no periódico Frontiers in Aging Neuroscience por meio do DOI: https://doi.org/10.3389/fnagi.2022.986262