Realizada a partir do monitoramento de pacientes de UTI do Hospital das Clínicas da USP, a pesquisa comparou os valores obtidos para a razão P2/P1 e o tempo para atingir o pico por meio do padrão ouro (invasivo) e do método brain4care

Um artigo publicado na revista Journal of Personalized Medicine indicou que as medições de variações na pressão intracraniana (PIC) por meio do sistema de monitoramento por meio de um sensor não invasivo vestível produz resultados similares ao do padrão ouro de monitoramento da PIC. O estudo foi liderado por Sérgio Brasil, pesquisador pós-doutoral do Departamento de Neurologia da Universidade de São Paulo, e realizado em seis unidades de terapia intensiva (UTIs) do Hospital das Clínicas da universidade.

Os resultados apontaram uma correlação estatisticamente significativa entre os parâmetros da morfologia do pulso da PIC obtida por meio do padrão ouro (invasivo) e do método brain4care ao se comparar a razão entre os dois primeiros picos do pulso da PIC (P2/P1) e o tempo para se atingir o pico. As variações identificadas a partir da indução de um aumento na PIC por meio da também foram similares.

Os métodos invasivos para o monitoramento da PIC envolvem a perfuração do crânio e a inserção de transdutores de pressão por meio de cateteres nos espaços ventricular, parenquimal ou subdural, o que pode resultar em complicações como infecção e hemorragia, além de restringirem a realização do monitoramento a situações específicas de internação em instituições hospitalares.

O uso de métodos não invasivos, por outro lado, permite o monitoramento sem riscos à saúde do paciente e também de forma contínua, possibilitando sua aplicação em muitos casos em que o padrão ouro não seria utilizado, como em casos de pacientes que passam por tratamentos relacionados a outros sistemas do corpo humano, como o renal, apresentando um conjunto relevante de dados para auxiliar na tomada de decisões de médicos responsáveis pelo acompanhamento.

Contudo, o sistema de monitoramento não invasivo avaliado não substitui completamente métodos invasivos, que até o momento são a única maneira de obter os valores absolutos da PIC. “Além disso, há métodos invasivos que têm papel terapêutico, como o cateter intraventricular, utilizado para a drenagem do líquio cefalorraquidiano (líquor), que por essa razão são indispensáveis nos casos em que se aplicam. Porém, mesmo nesses casos o método não invasivo pode ser útil na triagem e identificação de pacientes que precisariam ser submetidos a procedimentos invasivos”, avalia Sérgio Brasil, autor principal do artigo.

O artigo aponta ainda que a análise da forma do pulso da PIC e seus parâmetros correlacionados pode trazer outras informações importantes, como estimativas do estado da complacência intracraniana, a capacidade do crânio para se ajustar a mudanças no seu volume interno de forma a normalizar a PIC.

“Cada indivíduo possui uma resistência específica às mudanças na PIC. A complacência intracrania, por outro lado, parece ser um fiel da balança mais acurado – se a complacência está comprometida, isso é um indicativo de que a harmonia entre os componentes do crânio e a capacidade do crânio de compensar o aumento na PIC já chegaram a seu limite e qualquer novo aumento de volume pode apresentar sérios riscos à saúde do paciente”, pondera Sérgio Brasil.

Procedimentos

O estudo piloto acompanhou 41 pacientes internados de forma consecutiva no Hospital das Clínicas entre agosto de 2019 e maio de 2020 e cujos casos requeriam o monitoramento da PIC por meio do padrão ouro, que requer a perfuração do crânio e a inserção de transdutores de pressão por meio de cateteres.

Adicionalmente, a forma do pulso da PIC foi monitorada por meio da tecnologia não invasiva, em sessões de dez minutos de duração que envolviam a aferição de outros sinais vitais e uma compressão manual interna das veias jugulares internas durante um minuto para induzir um aumento da pressão intracraniana, cuja variação deveria ser detectada de maneira similar pelas duas formas de monitoramento.

Os dados (razão P2/P1 e tempo para se atingir o pico) foram analisados a partir da divisão dos pacientes em três grupos: aqueles cujo crânio foi mantido intacto, pacientes que sofreram fraturas cranianas ou foram submetidos a craniotomia e pessoas submetidas à craniectomia descompressiva.

Tanto a craniotomia como a craniectomia descompressiva são procedimentos cirúrgicos envolvem a abertura do crânio para drenagem de hematomas, de modo a reduzir a pressão intracraniana. Pacientes que passaram por uma das duas cirurgias têm comportamentos de pressão intracraniana distintos daqueles que possuem o crânio intacto.

“Esses procedimentos muitas vezes são indispensáveis para salvar a vida de pacientes, mas trazem suas consequências como a morbidade, bastante frequente nesses casos. A redução imediata da PIC indicada por meio dos valores absolutos em mmHg pode apresentar uma percepção equivocada de normalização, pois identificamos que nesses casos a complacência intracraniana se mantinha comprometida”, aponta Sérgio Brasil.

Acesso

O artigo “A Novel Noninvasive Technique for Intracranial Pressure Waveform Monitoring in Critical Care” tem como autores Sérgio Brasil, Davi Jorge Fontoura Solla, Ricardo de Carvalho Nogueira, Manoel Jacobsen Teixeira, Luiz Marcelo Sá Malbouisson e Wellington da Silva Paiva e foi publicado no periódico Journal of Personalized Medicine em 5 de dezembro de 2021 e por ser acessado por meio do DOI: 10.3390/jpm11121302