Pesquisadores da UNIFESP e USP demonstram que a razão P2/P1, obtida pela tecnologia brain4care, é precisa para excluir a presença de hipertensão intracraniana em pacientes com várias doenças neurológicas agudas
A hipertensão intracraniana (HIC) é uma condição grave associada a resultados adversos em diversas situações clínicas. Os métodos considerados padrão-ouro para monitorar a pressão intracraniana (PIC), como derivação ventricular externa (DVE) ou cateter intraventricular, são procedimentos invasivos e possuem limitações significativas. Identificar um método de triagem eficaz e não invasivo para HIC é importante para evitar a colocação desnecessária de PIC invasiva (PICi), agilizar sua introdução em pacientes que dela necessitem e auxiliar na definição de condutas clínicas.
Sendo assim, pesquisadores conduziram um estudo de análise retrospectiva, a partir de dados prospectivos, coletados dos Hospitais das Faculdades de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e da Universidade de São Paulo (USP), destinado a avaliar a morfologia da onda de pulso da PIC (intracranial pressure waveform, ou ICPW, na sigla em inglês) como nova alternativa de análise.
O trabalho “ICP wave morphology as a screening test to exclude intracranial hypertension in brain-injured patients: a non-invasive perspective”, publicado em fevereiro na revista Journal of Clinical Monitoring and Computing, mostrou resultados animadores nesse sentido.
Morfologia da PIC
O objetivo do estudo foi avaliar a morfologia da PIC não invasiva como método de triagem para monitoramento de PICi em pacientes com probabilidade moderada a alta de HIC. Primeiramente, os pesquisadores analisaram dados coletados de 69pacientes adultos internados em unidades de terapia intensiva neurológica de dois hospitais terciários com necessidade de monitoramento da PICi, recrutados entre agosto de 2017 e março de 2020. O monitoramento foi realizado utilizando-se método invasivo e não invasivo.
Foram realizadas no total 111 monitorações, sendo 15 pacientes com três medidas, 12 com duas medidas e 42 com apenas uma medida. As monitorizações e os valores foram obtidos simultaneamente pelo método invasivo e não invasivo, 5 minutos após o fechamento da DVE, por 10 minutos. O valor absoluto da PICi não foi incluído no estudo, sendo calculado a razão P2/P1 da PIC invasiva e não invasiva. O sistema não invasivo empregado, desenvolvido pela brain4care, não apresentou efeitos colaterais, sendo utilizado em todos os pacientes conforme o protocolo.
Análise precisa
Os dados reunidos foram analisados a partir de um software especializado (B4C System Analytical Software), primordialmente, com as formas de onda sendo avaliadas e interpretadas de forma blindada. As informações coletadas revelaram que a ICPW que registra uma relação P2/P1 inferior a 1,13 é precisa para excluir a presença de hipertensão intracraniana em pacientes com diversas condições neurológicas agudas. Nesse sentido, essa descoberta é destacada pela solidez dos resultados, evidenciados tanto pelo Valor Preditivo Negativo (VPN=97%) quanto pela Razão de Verossimilhança Negativa (RV-= 0,11) obtidos no estudo.
O estudo inova ao explorar a morfologia da PIC não invasiva, ou seja, baseado na razão P2/P1 como um teste de “exclusão”, confirmando a ausência de uma condição. A análise demonstrou que a morfologia do pulso da PIC, ao excluir a HIC, pode ser valiosa em diferentes cenários clínicos. Sua eficácia, especificamente no que se refere à relação P2/P1, coloca-a como um indicador confiável para triagem de HIC. Isso acarreta implicações importantes para o prognóstico e a gestão clínica de pacientes com lesões cerebrais agudas. A integração da análise da morfologia do pulso da PIC em protocolos de triagem pode diminuir o monitoramento invasivo desnecessário, tornando assim mais
acessível a implementação de monitoramento precoce em pacientes de alto risco, especialmente em locais com recursos limitados.
A fim de validar e ampliar a aplicabilidade clínica da morfologia do pulso da PIC (razão P2/P1) como triagem para HIC, os autores do estudo propõem a realização de novas pesquisas. Elas devem englobar uma amostra mais ampla de pacientes, de preferência em estudos randomizados multicêntricos. Esses esforços adicionais deverão ajudar a confirmar os resultados obtidos na presente pesquisa, fornecendo uma base mais sólida para sua utilização na prática clínica.
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(Foto: DC Studio/Freepik)