Estudo inovou ao utilizar sensor não invasivo de monitoramento da pressão intracraniana e revelou associações significativas que sugerem maior risco de complicações durante a gravidez

A gravidez é um período de transformações complexas no corpo feminino, acarretando desafios significativos para os profissionais de ginecologia e obstetrícia. O estudo “Intracranial pressure and laboratory parameters in high- and low-risk pregnant women”, conduzido por Daniel da Silveira, Nícollas Nunes Rabelo, Mateus Gonçalves de Sena Barbosa, Gustavo Frigeri e José Carlos Rebuglio Vellosa, avaliou alterações de pressão intracraniana durante o período gestacional. O estudo mostrou que mulheres com pressão intracraniana (PIC) alterada tiveram pressão arterial sistólica mais elevada, além de apontar uma correlação entre níveis de pressão arterial e a concentração de glicose no plasma
sanguíneos.

Os dados clínicos e laboratoriais dessas gestantes foram coletados dos prontuários médicos, incluindo exames hematológicos, bioquímicos e de perfil inflamatório (proteína C-reativa ultrassensível). Um destaque inovador foi o uso da tecnologia brain4care para monitorar as variações da PIC de forma não invasiva, um marco na monitorização durante a gravidez.

Associações significativas foram observadas entre níveis de pressão arterial e glicose plasmática. Além disso, diferenças foram encontradas entre marcadores bioquímicos, como fosfatase alcalina (FA) e proteína C-reativa ultrassensível (PCRus) em mulheres de alto risco gestacional. Estes resultados sugerem maior risco de complicações durante a gravidez entre pacientes com alterações desses
indicadores.

O estudo

]Durante um período de dez meses, o grupo de pesquisadores examinou 94 casos clínicos de gestantes atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS), com idades entre 15 e 44 anos. Destas, 73 eram consideradas gestantes de alto risco e as outras 21, de baixo risco. Entre os exames realizados está o monitoramento das variações da PIC com o uso da tecnologia brain4care, que, de acordo com a
metodologia estabelecida durante a pesquisa, foi utilizado para monitorização no lado direito da cabeça de todas as gestantes, na posição deitada.

Ao analisar os dados, os pesquisadores descobriram uma correlação positiva entre a pressão arterial e os níveis de glicose sanguínea. Isso significa que uma pressão arterial mais elevada pode estar associada com níveis de glicose sanguínea também elevadas em gestantes. Aproximadamente 12,77% das gestantes apresentaram elevação na PIC (relação P2/P1>1,1).

(Foto: Daniel Reche| Pexels)

Todas as gestantes com alterações na PIC também tinham alterações na pressão arterial sistêmica,
sugerindo uma possível alteração na complacência intracraniana. O estudo destacou mudanças importantes na pressão arterial, glicose sanguínea, PCR-us e FA, como possíveis indicativos para maior risco de complicações durante a gravidez. Vale notar que a fosfatase alcalina é um dos marcadores bioquímicos mais eficazes para avaliar o risco de parto prematuro antes das 32 semanas de gestação.

Perspectivas para saúde materna

O estudo enfatiza a importância de uma abordagem integrada que considere a relação entre parâmetros laboratoriais e a monitorização não invasiva da PIC durante o período pré-natal, especialmente em gestantes de alto risco. Essa abordagem pode aprimorar o acompanhamento pré-natal de maneira significativa, auxiliando no fornecimento de parâmetros informativos a serem observados durante a gestão, sobretudo em relação aos níveis de pressão arterial, glicose plasmática e marcadores bioquímicos como fosfatase alcalina e proteína C-reativa ultrassensível.

Além disso, o trabalho destaca a relevância da conexão entre a PIC, parâmetros laboratoriais e possíveis riscos cardiovasculares na gravidez, reforçando a necessidade de protocolos de cuidado mais amplos para minimizar o risco de complicações e enfatizando a importância de intervenções precoces para melhorar a saúde gestacional.

Os resultados do estudo foram publicados no periódico Surgical Neurology International e sugerem que essa compreensão aprimorada dos parâmetros de risco na gravidez pode ter implicações significativas na prática clínica e na saúde gestacional. Segundo os autores, essas descobertas desafiam conceitos anteriores e apontam para novas direções na prática clínica, oferecendo oportunidades para se aprimorar a abordagem sobre saúde materna e fetal.

Informações detalhadas sobre a pesquisa são encontradas no link: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC8247669/, Cirurgia Neurol Int. (31 de maio de 2021).