Revisão crítica sobre os métodos não invasivos para monitorização da pressão intracraniana foi publicada no periódico Arquivos de Neuro-Psiquiatria e também será apresentada em sessão de pôsteres na NCS 2021
Uma revisão crítica dos métodos de monitorização não invasivos da pressão intracraniana (PIC) insere um sensor brasileiro na literatura mundial sobre o assunto. Específico para medir a complacência intracraniana, o sensor brain4care detecta pequenas variações no volume do crânio causado por mudanças na PIC.
O resultado desse trabalho foi apresentado no artigo Noninvasive intracranial pressure monitoring methods: a critical review [Métodos de monitorização não invasivos da pressão intracraniana: uma revisão crítica], assinado pelos pesquisadores Fabiano Moulin de Moraes e Gisele Sampaio Silva. O estudo foi publicado pelo periódico Arquivos de Neuro-Psiquiatria e também será divulgado em uma sessão de pôsters do 19º Encontro Anual da Neurocritical Care Society (NCS 2021), que acontecerá entre 26 e 29 de outubro de 2021.
O uso da monitorização da pressão intracraniana é adotado há décadas no manejo de diversas condições neurológicas. Contudo, a monitorização invasiva intraventricular, tida como padrão ouro atualmente, está relacionada a inúmeras complicações, incluindo hemorragia, obstrução, mau posicionamento, infecção e perda de acurácia para lesões hemisféricas assimétricas, além de requerer um procedimento neurocirúrgico.
“Há mais de 20 anos temos a evidência de que o nosso padrão ouro tem algumas dificuldades, por exemplo, dependemos do cirurgião, do centro cirúrgico e da estabilidade clínica do paciente para tolerar a anestesia e a cirurgia”, explica Moraes.
“Além disso, é um procedimento que machuca o cérebro, que pode sangrar, infectar e que pode não ser perfeito até na própria monitorização, ou seja, em seu próprio objetivo”, complementa.
Divergências na literatura sobre os benefícios clínicos da monitorização da PIC
Embora o gerenciamento da PIC seja um benefício claro, não há consenso na literatura sobre a existência de um real benefício clínico com a monitorização da PIC, em comparação com o gerenciamento baseado apenas no exame neurológico do paciente, em achados de imagem e no julgamento do médico.
Enquanto alguns estudos mostraram que o monitoramento da PIC está associado a melhores taxas de sobrevivência, outros sugeriram que isso não só é infrutífero, como também pode, de fato, levar a piores resultados clínicos, incluindo aumento da mortalidade, hospitalização mais longa, aumento das taxas de complicações e aumento dos custos da hospitalização, em comparação com uma abordagem de não monitoramento da PIC em pacientes com traumatismo cranioencefálico (TCE).
Segundo os autores, o único estudo randomizado que avalia o efeito do monitoramento invasivo da PIC sobre os resultados clínicos entre os pacientes com TCE grave, descobriu que não havia diferença significativa na mortalidade em seis meses.
“Esses resultados indicam que ainda há espaço para melhorias no manejo clínico dos achados de monitoramento da PIC, o que poderia auxiliar em melhores decisões clínicas e melhores resultados para pacientes em estado crítico”, afirma o pesquisador.
Revisão crítica e as diferentes abordagens revisitadas
Na revisão dos métodos não invasivos de monitorização da PIC, as diferentes modalidades e abordagens foram agrupadas de acordo com o mecanismo utilizado para detectar a elevação da PIC e as consequências neurológicas desse aumento, como a redução do fluxo sanguíneo cerebral e alterações metabólicas.
As principais abordagens revisitadas foram: o exame físico, neuroimagem (ressonância magnética, tomografia computadorizada e ultrassom da bainha do nervo óptico), técnicas indiretas de estimativa da PIC (fundoscopia, deslocamento da membrana timpânica e elasticidade craniana), avaliação do fluxo sanguíneo cerebral (doppler transcraniano e doppler da artéria oftálmica), medidas de alterações metabólicas (espectroscopia no infravermelho próximo) e estudos neurofisiológicos (eletroencefalograma, potencial evocado visual e emissões otoacústicas).
Embora esse tema já tenha sido abordado por outros autores, Moraes e Silva apresentaram uma revisão atualizada da literatura com a discussão de novos métodos que ainda não haviam sido avaliados em revisões anteriores.
“Fizemos uma revisão sistemática da literatura para entender as opções disponíveis, os benefícios, facilidades, dificuldades, competências e incompetências. Além disso, inserimos o brain4care nesta revisão, que foi a primeira considerá-lo diretamente ou mais explicitamente como método, já que essa capacidade de distensão da calota craniana era muito pouco falada até então. Mas eu acredito que a partir do brain4care isso vai mudar”, relata Moraes.
Conclusão dos pesquisadores sobre monitorização da PIC e eficácia do método brasileiro com sensor não invasivo
Apesar das limitações do método considerado padrão ouro para monitorizar a PIC, os pesquisadores chegaram à conclusão de que nenhum método de monitoramento não invasivo da PIC cumpre os requisitos técnicos – acurácia, confiabilidade e opções terapêuticas – para substituição das técnicas invasivas, nem mesmo em casos que requerem apenas o monitoramento da PIC sem drenagem do líquido cefalorraquidiano.
Contudo, o artigo destaca a eficácia do método brasileiro que utiliza o sensor não invasivo brain4care: “No estágio atual de desenvolvimento, o dispositivo não exibe valores de pressão calibrados em mmHg, mas pode fornecer informações contínuas em tempo real sobre a forma de onda da PIC e, consequentemente, da complacência intracraniana. A informação mostra grande semelhança com as curvas obtidas usando métodos invasivos”.
Para Moraes, o reconhecimento do método e, mais especificamente, o entendimento de que avaliar a complacência intracraniana pode ser mais importante do que monitorizar a PIC, é uma questão de tempo. E será um salto que beneficiará, sobretudo, os pacientes.
“O brain4care tem uma premissa fantástica, uma enorme capacidade de enxergar o dado, a onda da PIC, mas precisamos de mais trabalhos científicos. A ciência não é feita só de intenção e nem de boas ideias, mas de experimentação, e estamos exatamente nesse momento”, destaca.
A experiência da utilização do sensor brain4care na prática clínica
O pesquisador Fabiano Moulin de Moraes tem utilizado o sensor não invasivo brain4care em sua prática clínica. “A minha experiência foi fantástica com o brain4care, então, eu não tenho dúvida da importância do método. Mas ciência não é opinião pessoal, ciência é análise dos dados para o mundo e recomendação para que outros grupos façam a pesquisa e cheguem às suas conclusões para que possamos analisar juntos e registrar os resultados” ressalta.
Em outras palavras, ainda há a necessidade de mais evidências antes que essas modalidades de monitorização ou estimativas não invasivas se tornem uma alternativa mais robusta em relação às técnicas invasivas.