Embora não ofereça valores absolutos da pressão intracraniana, método permite o monitoramento contínuo e sem riscos

Parâmetros de tempo para atingir o pico e a razão P1/P2, com base em 10 pacientes, durante 1.504 minutos.

Um estudo-piloto realizado por Celeste Dias, professora da Faculdade de Medicina da
Universidade do Porto (Portugal), e Inês Gomes, graduanda na mesma universidade,
identificou que o monitoramento da pressão intracraniana por meio de um sensor vestível, não invasivo, produz resultados similares ao procedimento padrão, bastante invasivo. A pesquisa foi realizada em parceria com uma equipe da empresa brasileira brain4care, que produz o sensor não invasivo utilizado no experimento.

Conforme apontado pelo artigo, a pressão intracraniana (PIC) é um parâmetro importante relacionado ao tratamento de traumatismo intracraniano e acidente vascular cerebral, causado pela hipertensão intracraniana. Assim, seu monitoramento é de grande importância para aumentar as chances de sobrevivência de pacientes, especialmente para nortear decisões no tratamento.

O método padrão de aferição da pressão intracraniana requer o perfuramento do crânio e a inserção de um sensor no espaço intraventricular ou intraparenquimal. É bastante preciso, porém custoso, e traz riscos de hemorragia e infecção aos pacientes. O método não invasivo, por outro lado, requer apenas o posicionamento do sensor externo sobre a região das têmporas e permite um monitoramento contínuo.

Metodologia: pesquisadores acompanharam pacientes e compararam mensurações estatisticamente

A pesquisa foi realizada com um conjunto de dez pacientes do Hospital São João (Porto, Portugal) – três deles sofreram traumatismo intracraniano, três hemorragia subaracnoidea, três hemorragia intracraniana e um que sofreu acidente vascular cerebral de tipo isquêmico –, que tiveram a pressão intracraniana mensurada tanto por meio do método invasivo como pelo não invasivo, assim como a pressão sanguínea arterial radial.

A pesquisa foi realizada com um conjunto de dez pacientes do Hospital São João (Porto, Portugal) – três deles sofreram traumatismo intracraniano, três hemorragia subaracnoidea, três hemorragia intracraniana e um que sofreu acidente vascular cerebral de tipo isquêmico –, que tiveram a pressão intracraniana mensurada tanto por meio do método invasivo como pelo não invasivo, assim como a pressão sanguínea arterial radial.

As duas mensurações foram comparadas estatisticamente utilizando correlações lineares e não-lineares. O estudo identificou que a maioria dos parâmetros analisados é oferecida de forma igualmente precisa por ambos os métodos, com exceção do tempo de pico, menos preciso no método não invasivo.

Inês Gomes, uma das autoras do estudo, pondera que os resultados ainda são preliminares, e afirma que uma pesquisa com uma população e tempo de monitorização maiores, com o uso do método de de Informação Mútua Normalizada, proporcionaria uma melhor compreensão entre a PIC e a morfologia de onda da PIC.

“Na possibilidade de aumentar o número de pacientes incluídos no estudo, seria ainda pertinente fazer uma análise morfológica das curvas tendo em conta a patologia de base, na conjectura de que diferentes patologias médicas poderão ter uma expressão morfológica distinta. Em adição, seria relevante proceder a uma análise demográfica (como exemplo, por sexo e idade) das variáveis razão P2/P1 e tempo de pico”, aponta a jovem pesquisadora.

Faz ainda a ressalva de que o método não invasivo não apresenta valores absolutos da PIC em mmHg, oferecidos pelo método invasivo, apresentando, em vez disso, a morfologia do pulso da PIC que permite avaliar a complacência intracraniana, a capacidade do crânio de compensar mudanças internas de volume, cujas mudanças precedem as crises hipertensivas, permitindo com que a equipe médica aja de forma precoce.

Porém, conforme aponta Inês Gomes, “Há um interesse crescente por parte da equipe em investir e desenvolver modelos matemáticos que permitam fazer esta dedução numérica partindo da morfologia e características da onda captada pelo sensor não invasivo”.

A autora ainda acrescenta: “É importante ressalvar que a avaliação exclusiva da morfologia da curva em captação, mesmo na ausência de valores absolutos de pressão intracraniana, permite deduzir o estado clínico de um doente com lesão cerebral aguda a partir do conceito de compliance cerebral, permitindo uma monitorização não invasiva contínua de mudanças relativas na ICP”.

O artigo “Comparison of Waveforms Between Noninvasive and Invasive Monitoring of Intracranial Pressure” foi publicado como capítulo do livro Intracranial Pressure and Neuromonitoring XVII e pode ser acessado a partir do DOI: 10.1007/978-3-030-59436-7_28. A obra integra a série de livros “Acta Neurochirurgica Supplement“, do prestigioso periódico Acta Neurochirurgica.