Estudo avaliou a pressão intracraniana durante cirurgia de remoção de próstata; medida pode prevenir eventuais problemas pós-operatórios

Um artigo publicado na revista científica Brazilian Journal of Anesthesiology apresentou resultados que sugerem que a cirurgia de remoção da próstata (prostatectomia) afeta negativamente a complacência intracraniana, indicador de saúde neurológica relacionado à capacidade dos componentes intracranianos em se ajustar a variações em seu volume interno. O estudo foi realizado por uma equipe do Centro de Estudos de Anestesiologia e Reanimação (CEDAR), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

De acordo com a pesquisadora Gabriela Saba, uma das autoras do paper, a novidade do experimento foi analisar a eficiência e a confiabilidade de uma tecnologia não invasiva para medir a pressão intracraniana (PIC) durante a prostatectomia. A cirurgia é comumente realizada em idosos do sexo masculino, mais propensos a desenvolverem distúrbios cognitivos decorrentes da elevação da PIC no pós-operatório, como dificuldades no raciocínio e na fala, e eventuais complicações isquêmicas. 

Na prostatectomia, é insuflado gás na cavidade abdominal (pneumoperitônio) e o paciente permanece na inclinação máxima da mesa cirúrgica, isto é, com a cabeça mais baixa que o corpo durante todo o procedimento. “Esses fatores são críticos para o aumento da pressão intracraniana”, comenta Gabriela, médica anestesista formada na Faculdade de Medicina do ABC com residência na Faculdade de Medicina da USP. “Por esse motivo, monitorar a PIC no intraoperatório da prostatectomia é importante, e nossa pesquisa é a primeira a fazer isso”, explica.

Caso clínico

O estudo usou como referência dados coletados a partir de um sensor não invasivo durante a prostatectomia realizada em um homem de 69 anos, fumante há 25 anos com enfisema pulmonar leve e submetido a uma prostatectomia robótica. Ele foi o primeiro de um grupo de 48 pacientes a serem avaliados em testes comparativos com tecnologias não invasivas disponíveis para monitorar a PIC.

As análises indicaram uma complacência intracraniana normal durante a indução da anestesia, por meio da análise de duas ondas: P1, relacionada à pressão arterial sistólica transferida pelo plexo coróide para o líquido cefalorraquidiano; e P2, relativa ao tecido parenquimatoso da onda sistólica. “O estudo acadêmico considerou toda a evolução da PIC nas três horas da cirurgia. Quando P1 está maior do que P2, a complacência está normal. Porém, quando P2 excede P1, é sinal de hipertensão intracraniana”, observa Gabriela.

Conclusões

O estudo sugere a necessidade do monitoramento da pressão intracraniana no processo intraoperatório de prostatectomias, uma vez que há grandes variações na PIC durante a cirurgia, o que poderia potencialmente permitir a identificação precoce da complacência intracraniana prejudicada e nortear decisões médicas a partir do diagnóstico. 

O estudo também demonstrou o potencial da tecnologia não invasiva de monitorização da complacência intracraniana. “A análise matemática de morfologia do pulso de pressão intracraniana dispensa a necessidade de um cateter invasivo. Estudos com mais participantes precisarão ser realizados, mas a análise da forma da onda da PIC forneceu uma análise relativamente precisa da complacência”, conclui Gabriela. 

Assinado pelos pesquisadores Gabriela Tognini Saba, Vinicius Caldeira Quintão, Suely Pereira Zeferino, Claudia Marquez Simões, Rafael Ferreira Coelho, Arnaldo Fazoli, William Nahas, Gustavo Henrique Frigieri Vilela e Maria José Carvalho Carmona, o artigo “Noninvasive intracranial pressure real-time waveform analysis monitor during prostatectomy robotic surgery and Trendelenburg position: case report” foi publicado em 1 de outubro de 2021 na revista científica Brazilian Journal of Anesthesiology e pode ser acessado pelo DOI: 10.1016/j.bjane.2021.09.003