Professor da Unicamp contribuiu para compreensão da esquizofrenia e sua relação com alterações na vascularização cerebral

O professor e pesquisador Daniel Martins-de-Souza, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi laureado com o Basic Research Award, prêmio concedido pela Schizophrenia International Research Society (SIRS). A homenagem, realizada em 2023, coroa anos de dedicação à pesquisa básica e, em especial, a descobertas importantes no campo da esquizofrenia.

Martins-de-Souza, que é biólogo e tem diploma de doutorado em bioquímica pela Unicamp, trouxe ao Brasil o conhecimento adquirido por ele em estágios internacionais de pesquisa e estabeleceu o Laboratório de Neuroproteômica na Unicamp, onde destacou-se por suas contribuições na compreensão molecular da esquizofrenia. Seu caminho desde o Max Planck Institute of Psychiatry até o reconhecimento global reflete uma jornada incansável para desvendar mistérios do cérebro humano.

Foto: Researchgate do pesquisador

A pesquisa

O estudo que lhe rendeu tal prestígio, publicado na revista Molecular Psychiatry, aprofundou o entendimento sobre relações complexas entre a esquizofrenia e alterações na vascularização cerebral. Em uma colaboração com pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a pesquisa revelou que astrócitos, células cruciais para a manutenção dos neurônios, desempenham um papel fundamental nesse transtorno mental grave e multifatorial.

Astrócitos derivados de células de pacientes com esquizofrenia (colunas 1 e 3) promovem menor vascularização comparados à células-controle (imagem: Pablo Trindade/UFRJ/Idor)

Ao reprogramar células epiteliais de pacientes com esquizofrenia para um estágio de pluripotência, a equipe responsável pelo estudo permitiu a diferenciação em células-tronco neurais, abrindo portas para a análise proteômica. O exame das proteínas expressas nos astrócitos desses pacientes revelou alterações imunes e uma ação angiogênica na vascularização cerebral.

Num esforço conjunto, os pesquisadores também conduziram ensaios funcionais utilizando um modelo vascular baseado na membrana de ovos de galinha. Esse método, conhecido como CAM, proporcionou insights importantes sobre como as substâncias secretadas pelos astrócitos de pacientes impactam a vascularização cerebral.

“Estudos anteriores já haviam sugerido que tanto anormalidades moleculares quanto funcionais dos astrócitos poderiam estar envolvidas na patogênese da esquizofrenia. Em nosso trabalho, comprovamos essa relação a partir de estudos com células-tronco pluripotentes induzidas. Sem essa técnica seria impossível estudar os astrócitos da maneira como fizemos”, explicou Martins-de-Souza, em entrevista à Agência Fapesp.

Juliana Minardi Nascimento, primeira autora do artigo, acrescenta que “os astrócitos derivados de pacientes apresentavam não apenas modificações na vascularização, mas também um perfil crônico de inflamação”. Essas descobertas não só revelam novos alvos terapêuticos para a esquizofrenia, mas também lançam luz sobre a importância do neurodesenvolvimento desde o útero.

“Pode ser que, durante a maturação do cérebro, aconteçam fatos como o que verificamos no estudo: uma vascularização sistematicamente alterada levando à malformação de circuitos cerebrais que pode desencadear a esquizofrenia na idade adulta”, explica Juliana.

As doenças neurológicas também foram destaques no estudo, com apontamento sobre a relevância dos astrócitos. “O papel das células da glia, como é o caso dos astrócitos, não só na esquizofrenia mas nas doenças neurológicas em geral, tem sido um achado recente, pois havia uma visão muito neurocêntrica de se investigar mais o papel dos neurônios. Não deixa de ser uma forma de ampliar nossa visão e entendimento sobre a doença”, avalia Martins-de-Souza.

Mais informações sobre a pesquisa, acesse o link: https://www.nature.com/articles/s41380-022-01830-1 

Fonte de pesquisa: Revista FAPESP.