Pioneiro ao redigir prontuários médicos, escocês consolidou a Doutrina Monro-Kellie; ex-cirurgião atuou também como filósofo e filantropo

Imagem: Art UK/Domínio Público

Nascido em Aberdeen, Escócia, John Abercrombie (10/10/1780 – 14/11/1844) se formou pela primeira vez aos 15 anos, obtendo o título de Master of Arts. Aos 23 anos, concluiu a graduação em Medicina em Edimburgo e depois fez pós-graduação no St George’s Hospital, em Londres. Ao retornar a Edimburgo, foi admitido como cirurgião membro do Royal College of Surgeons.

Em 1805, Abercrombie foi nomeado cirurgião do Royal Public Dispensary, o primeiro hospital gratuito da Escócia — a entidade atendia pobres e fornecia experiência em clínica geral para aprendizes em medicina. Em 1824, tornou-se membro do Royal College of Physicians e se credenciou como o principal médico de Edimburgo na época. 

Detalhista e multifacetado

Abercrombie dividiu a cidade de Edimburgo em setores e designou seus estudantes de medicina e aprendizes para atuarem neles. Desse modo, iniciou um sistema de treinamento sistemático de estagiários. Outro pioneirismo foi a criação de prontuários, relatando o histórico de cada paciente. Esses registros originaram dois livros, lançados em 1828, ambos com reconhecimento e repercussão internacional, sendo depois traduzidos para o francês e alemão em várias edições, incluindo a norte-americana.

O primeiro deles, ”As Pesquisas Patológicas e Práticas sobre Doenças do Cérebro e da Medula Espinhal”, é considerado o primeiro tratado médico sobre neuropatologia. Já o segundo, “Doenças do Estômago, Intestino, Fígado e outras vísceras do Abdômen”, descreveu pela primeira vez os sintomas e sinais de úlcera duodenal perfurada — outra inovação, considerando a dificuldade da época, anterior à endoscopia, radiologia ou mesmo cirurgia abdominal, em correlacionar características clínicas e patológicas.

Pressão intracraniana  

​​Abercrombie também confirmou, por meio de uma monografia lançada em 1828, as bases da hipótese científica conhecida como Doutrina Monro-Kellie, relativa à pressão intracraniana (PIC), formulada em 1783 pelos também cirurgiões escoceses Alexander Monro e seu discípulo George Kellie, e revisada somente no século 21. 

Repetindo as experiências de Kellie, Abercrombie fez experimentos envolvendo a sangria total de animais — e ​ destacou que se fosse realizada uma pequena abertura no crânio, o cérebro sangraria como os demais órgãos. Essa constatação consolidou a Doutrina Monro-Kellie.

Filosofia e filantropia

Além da medicina e patologia, Abercrombie enveredou também por temas como filosofia e religião. Cristão e filho de reverendo, escreveu em 1830 ‘Inquirições sobre os Poderes Intelectuais e a Investigação da Verdade’; em 1833, dando sequência à obra anterior, lançou ‘A Filosofia dos Sentimentos Morais’ — ambos os trabalhos alcançaram grande repercussão na época. Em 1835, escreveu ‘O homem de fé: ou a harmonia da fé cristã e do caráter cristão’, obra distribuída gratuitamente. Generoso ao longo de sua vida, contribuiu com a Sociedade Missionária Médica de Edimburgo. 

Reconhecimento

Sua prática de consulta atraiu pacientes de todas as partes das Ilhas Britânicas e estrangeiros. Suas habilidades foram reconhecidas por sua nomeação pelo rei George IV como médico ordinário do rei na Escócia. Além disso, foi eleito Reitor do Marischal College and University, Aberdeen, e a Universidade de Oxford conferiu a ele o prêmio do grau honorário de MD (Doutor em Medicina).

Abercrombie foi eleito membro da Academia Real de Medicina da França e vice-presidente da Royal Society de Edimburgo. Após sua morte em 1844, sua família doou sua biblioteca de mais de 900 livros ao Royal College of Surgeons de Edimburgo, enquanto seus extensos documentos foram doados para a biblioteca do Royal College of Physicians de Edimburgo.

Fontes

Wikipedia
ResearchGate
CARDIM, D. A. Caracterização do comportamento da pressão intracraniana pelos métodos de monitoramento minimamente invasivo e invasivo no modelo experimental de epilepsia da pilocarpina. Dissertação apresentada ao Programa de Interinstitucional de Pós-graduação em Ciências Fisiológicas UFSCar/UNESP. São Carlos, 2014.