Cirurgião escocês é um dos autores da doutrina Monro-Kellie, hipótese científica relativa à pressão intracraniana (PIC) humana, enunciada em 1783 e revista somente no século 21

Imagem: Portrait of Dr. George Kellie painted by John Watson Gordon, circa. 1827.

Nascido em Leith, porto marítimo da cidade de Edimburgo (Escócia), George Kellie (1770-1829) seguiu os passos do pai, médico, depois de um aprendizado de cinco anos com o cirurgião James Arrott. Aos 20 anos, ingressou na Marinha Britânica como cirurgião e publicou seus primeiros artigos científicos, na forma de cartas endereçadas a seu pai. Em um desses registros, relatou os efeitos da compressão do braço por um torniquete aplicado em si próprio.

Em 1796, Kellie descreveu para os Anais de Medicina a anatomia do tubarão e, no ano seguinte, retomou as observações sobre a compressão do torniquete. Em 1802, retomou atividades como médico em Leith, mantendo porém seus vínculos militares, o que lhe rendeu nomeação de cirurgião dos voluntários do Royal Leith.

Trabalho cerebral

Depois de publicar artigos nas áreas de medicina e cirurgia, Kellie foi convidado por magistrados locais para tentar explicar a causa da morte de dois indivíduos encontrados deitados de lado após uma tempestade. No relatório da autópsia, destacou o fato das veias das meninges e da superfície do cérebro dos corpos estarem entupidas e das artérias associadas estarem relativamente sem sangue, enquanto o cérebro deles estava normal. Para ele, a causa mortis dos indivíduos foi a exposição, resultado de um quadro progressivo ligado à circulação cerebral desordenada, iniciado com fadiga, passando depois por sonolência, coma e morte.

Kellie prosseguiu em seus estudos com uma série de experiências com animais — nelas estudou a circulação cerebral de ovelhas e de cães imediatamente após a morte induzida e a exsanguinação (retirada do sangue do corpo ou de um órgão). Em muitos casos, notou que enquanto havia irrigação sanguínea nos tecidos externos ao crânio, o cérebro não era afetado, ocorrendo retenção do volume de sangue — ao mesmo tempo, onde o volume sanguíneo circulante estava esgotado, o volume circulante dentro do crânio permanecia constante.

Doutrina Monro-Kellie

A doutrina Monro-Kellie, hipótese científica relativa à pressão intracraniana (PIC) humana, é o mais importante legado de Kellie. Seus estudos com a circulação cerebral o levaram a dividir sua autoria com seu mestre e preceptor em anatomia Alexander Monro Secundus. A hipótese científica foi enunciada em 1783 e revisada somente em meados do século 21.

Propõe que o cérebro de um adulto é hermeticamente fechado e incompressível, isto é, ocupa completamente uma caixa craniana e não pode ser expandido. Além disso, sugere que o cérebro mantém equilíbrio de volume constante – assim, qualquer aumento na massa no constituinte craniano, formado por sangue (10%), líquor (10%) e tecido cerebral (80%), é compensado por uma diminuição no volume de outro.

Desdobramentos

Monro, preceptor de Kellie, o convidou para examinar cérebros de criminosos executados e enviou-lhe descrições de descobertas. Nesse trabalho, Kellie destacou o trabalho do também médico John Abercrombie. Este, em 1828, lançou o livro “As Pesquisas Patológicas e Práticas sobre Doenças do Cérebro e da Medula Espinhal”, considerado um divisor de águas na neuropatologia. Esta obra ligou as teorias de Monro e Kellie, deu-lhes crédito pela hipótese científica, consolidando a Doutrina Monro-Kellie.

Em vida, Kellie obteve reconhecimento por seu trabalho, sendo eleito em 1823 membro da Royal Society de Edimburgo e nomeado em 1827, presidente da Medico-Chirurgical Society de Edimburgo e foi sucedido nesse cargo por John Abercrombie. Morreu após um desmaio em 1829, enquanto voltava para casa depois de atender um paciente.

Fontes

Wikipedia
Neurointensivismo
Neuroliga2013 – Hipertensão intracraniana