Médico negro brasileiro, reconhecido por seu papel na fundação da Psiquiatria Científica no Brasil e pela grande influência na Neurologia

Nascido em janeiro de 1872, em Salvador (BA), Juliano Moreira é, provavelmente, uma das figuras de maior influência para as escolas modernas de Neurologia e Psiquiatria no Brasil. 

Foi um médico negro reconhecido por seu papel na fundação da Psiquiatria Científica no Brasil. Descrevemos suas contribuições desde sua tese de Doutorado, em 1891, em que rebateu o conceito de hierarquia racial e de que índios e negros eram fatores negativos da miscigenação, até sua atuação durante 27 anos como diretor do Hospital Nacional de Alienados. 

Filho de Galdina Joaquina do Amaral, escravizada na residência do Barão de Itapuã, Juliano Moreira ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia (FAMEB) em 1886, aos 14 anos, dois anos antes da abolição da escravatura no Brasil. Em 1890, ingressou na clínica de Dermatologia e no estudo da sífilis.  

Também teve um papel de grande relevância na fundação de sociedades como a Academia Brasileira de Ciências, e na primeira revista brasileira dedicada à Neuropsiquiatria. Além de sua ampla influência no campo da medicina, destacou-se como cidadão brasileiro, lutando contra teorias racistas de seu tempo.

Avanços no aprendizado

Os estudos de Moreira sobre a doença mental resultaram em sua nomeação como assistente da Cadeira de Clínicas Psiquiátricas e Nervosas. Em 1896 concorreu a professor substituto do Departamento de Doenças Nervosas e Mentais da FAMEB e, aos 24 anos, não só foi aprovado para o cargo, como também garantiu o 1º lugar, recebendo nota máxima dos juízes.

Moreira demonstrou sua inclinação para a Neuropsiquiatria em sua tese de Doutoramento denominada “Etiologia da Sífilis Maligna Precoce”, em que identificou uma lacuna no estudo da sífilis, relacionada com as causas que agravam a doença, refutando a teoria que a DST (Doença Sexualmente Transmissível) era mais propensa à transmissão nos trópicos, devido a fatores climáticos e raciais. Em sua tese de 1896 para o cargo de professor substituto, intitulada “Discinesia por arsênio”, Moreira descreveu as manifestações neurológicas da intoxicação por arsênio.

Contribuições 

O renomado médico também atuou na Gazeta Médica da Bahia (GMB), uma das primeiras revistas médicas científicas do Brasil. A partir de 1893, publicou vários artigos sobre as consequências neurológicas da sífilis e outras doenças nervosas, tornando-se editor em 1896 e editor-chefe em 1901.

De 1903 a 1930, foi diretor do National Hospice for the Insane (NHI), considerado o local onde se iniciou a prática da Neurologia no Brasil. Nesse período, o prédio do hospital passou por uma série de reformas, incluindo a criação de novos pavilhões. Em destaque, Antônio Austregésilo, considerado o precursor da Neurologia moderna brasileira, foi nomeado em 1904 como responsável por um dos pavilhões. 

Outra contribuição importante foi a criação do periódico “Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins” em 1905; a primeira publicação brasileira especializada em Neuropsiquiatria. Posteriormente, o periódico mudou seu nome para “Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal” após a fundação da Sociedade Brasileira de Neurologia, Psiquiatria e Medicina Legal em 1907, da qual Moreira foi diretor até 1933, e para “Arquivos Brasileiros de Neuriatria e Psiquiatria ”em 1917 que durante cinco décadas teve ampla influência na Neurologia brasileira.

Juliano Moreira foi um dos fundadores da International League Against Epilepsy em Budapeste, em 1909, e eleito membro titular da Academia Nacional de Medicina do Brasil em 1903, atuando como seu vice-presidente entre 1922-1923 e 1925-1933. 

Em maio de 1916, participou da fundação da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e em 1917 assumiu a vice-presidência até 1926, quando se tornou presidente (1926-1929). O doutor recebeu Albert Einstein no Brasil em 1925, almoçando com ele durante visita ao NHI, onde seus trabalhos foram elogiados pelo mesmo. 

Considerações 

Alguns autores consideram que o movimento científico neuropsiquiátrico foi iniciado no Brasil por ele, visto que antes dele a miscigenação e a hereditariedade eram consideradas as fontes primárias da maioria das doenças mentais. Moreira refutou cientificamente as teorias xenófobas que afirmavam que algumas doenças mentais e infecciosas eram relacionadas com o clima, tentando usar essas patologias para comprovar uma certa inferioridade biológica dos não brancos.

Teve grande influência na Psiquiatria e na Neurologia no Brasil. Vale destacar que Antônio Austregésilo trabalhou sob a direção de Moreira no NHI, participando de sociedades, academias e periódicos ao lado dele. Portanto, senão o fundador da neuropsiquiatria científica, é certamente uma das mais importantes figuras influentes para o estabelecimento e desenvolvimento da Psiquiatria Clínica e da Neurologia no Brasil.

Falecimento

Juliano Moreira faleceu em 2 de maio de 1933, no Sanatório de Corrêas, na cidade de Petrópolis, onde se internou para tratamento de tuberculose.